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TEXTO - EU SOU UMA CASA

  • Foto do escritor: paraamarjesus
    paraamarjesus
  • 19 de set. de 2018
  • 3 min de leitura

"Você é casa", ouvi alguém me dizer. Mal sabia eu que ela precisaria de reformas. Mal sabia eu que ela precisaria ser arrumada. Ajeita daqui, ajeita de lá. Cada vez que pegava a vassoura para varrer era uma dor diferente. Havia muito pó escondido, e esquecido, debaixo do tapete. Conforme passava as cerdas daquela vassoura, era como se estivesse rasgando tudo o que eu construí pensando ser verdadeiro. Na realidade, era apenas sujeira acumulada de dias sem ao menos perceber o quanto estava sujo. E os móveis inúteis? Ahn, como foi difícil me livrar deles. Eu estava apegada, não tinha como simplesmente jogá-los fora. Muitos deles foram postos quando ainda era pequena, cresci com eles. Me doía ter que me livrar daqueles móveis, de alguns tudo bem, queria me livrar mesmo. Mas muitos deles, não! Também descobri que havia um quartinho, aqueles de bagunça sabe!? Até aí tudo bem, só estava bem bagunçado, até que encontrei uma caixa preta. É, poderia ter escondido melhor aquela caixa. Mas lá estava eu, abrindo a caixa e pra minha surpresa, havia muitas coisas esquecidas lá. Se doeu? Ah, eu nem te conto! Eram lembranças dolorosas. Tão dolorosas que entendi o porquê eu havia escondido elas lá naquela caixinha preta, dentro do quartinho de bagunça. Pensei que jamais precisaria rever aqueles momentos. Mas cada vez que eu me livrava de algo daquela caixa era como se tirassem um elefante das minhas costas. A cada elefante tirado, mais leve eu ficava então mais rápido eu conseguia caminhar. Que alívio! Tanto tempo carregando tudo aquilo, como eu não sabia que seria mais leve me livrar deles, ao invés de escondê-los de mim mesma? Ahhh, mas quando eu descobri que a cada "coisinha" que eu tirava e arrumava daquele quartinho, era um passo a mais para minha liberdade, mais eu passava tempo ali ajeitando tudo. E assim foi seguindo os dias. Ajeita daqui, ajeita de lá. Passa a vassoura aqui, passa lá. Cada dia uma surpresa diferente. Só falei das dores não é?! Mas teve coisas boas também. Descobri que haviam coisas incríveis, mas que estavam guardadas. Que eu me lembre, eu tinha vergonha de colocar na vista de todos, e acredite que eu não entendo até hoje o porquê existia essa vergonha. Mas decidi montar uma estante, e nela colocar tudo de mais lindo que eu encontrava. Ahhh, é a estante mais linda que eu já vi! Gosto de ficar olhando para ela, admirando. Se eu tenho orgulho da minha estante? Um pouco, na verdade ela me lembra de quem me criou. Hoje eu olho para mim e vejo que ainda estou em reformas, ainda tenho que ajeitar muitas coisas e minha estante ainda tem espaços vazios. E eu entendi que, as vezes, será dolorido, e outras, será lindo como um arranjo de flores. Mas que tudo, bom e ruim, serve para deixar a casa mais bonita, mais cheirosa e mais aconchegante. E entender isso hoje, me empolga e me motiva até mesmo quando eu não quero. E é isso! Ah, e eu ainda não disse né?! Claro que eu não arrumo a casa pra ela ficar vazia. Eu arrumo porque tem um morador, mas não é um morador qualquer. É aquele morador sabe!? Que merece ter a casa mais linda de todas. E é por isso que estou sempre ajeitando ela. Se fosse um morador qualquer, talvez eu não faria tudo isso. Mas esse morador, ah! Nem te falo o preço que ele pagou pela casa. Um preço tão alto que ninguém conseguiria pagar. E olha, eu fico muito feliz, porque eu sempre estive à venda por um preço tão mixuruco. Sou muito grata por esse morador, que mostrou meu real valor e tem me ensinado o quanto vale a pena arrumar a casa.  

-Texto por Amanda Oliveira


 
 
 

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